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«Outubro, donde vens tu?», pergunto. E Outubro responde-me: «Venho do oito, esse algarismo formoso que, deitadinho, simboliza o infinito…»

«Que poético!», respondo eu a sorrir. E parto à procura do étimo de oito: «octo» em latim. Pois é, o nome deve-o a este numeral, dado que era o oitavo mês do calendário romano, iniciado em março.

Para mim, outubro é especial: o mês em que aprendi a ler. A ler mesmo, pois antes «lia» apenas as imagens das historinhas de banda desenhada e só escrevia, muito desenhadamente, o meu nome e as palavras «mãe» e «pai». De um momento para o outro, em outubro, aprendi num ápice o abecedário, a juntar as letras em sílabas (embora estas sejam, em boa verdade, orais), a juntar as sílabas em palavras. Posso dizer que, no final do mês de outubro dos meus seis anos, eu sabia ler. Então foi a festa: regressar a todas as revistinhas de banda desenhada de que antes só observara muito atentamente as imagens e, agora sim, ler as palavras dos balões, das legendas, ler as onomatopeias, captar cada vinheta por inteiro.

Mas outras razões há pelas quais gosto de outubro: é por ser, em Portugal, o mês do dia da implantação da República (viva a República!), é por ser o mês do dia do professor (e eu recordo todos os bons professores que tive e todos os que continua a haver), é por ser também o mês internacional da Biblioteca Escolar (o dia é 24). E, finalmente, por, no último dia, o 31, ser o Dia das Bruxas, o Halloween. Não que seja fã do dia e do seu folclore, mas porque acho graça à tradição nos países anglo-saxónicos (nós temos as nossas, que são diferentes e focadas noutros dias). É a véspera da festa cristã ocidental do Dia de Todos os Santos.

Há quem defenda que as tradições do Halloween tiveram origem no antigo festival celta da colheita, e que este acabaria cristianizado pela Igreja primitiva. Mas, para outros, o Halloween começou independentemente desta festividade e possui raízes cristãs.

O que sei é que outubro chegou. E com ele vieram as castanhas e os assadores de castanhas, o fumo e o cheirinho no ar. Ontem, numa rua por onde passeei, não faltavam belos ouriços abertos, caídos dos castanheiros. Que viva outubro, mês das belas cores outonais. Mas atenção: outubro só é outono no hemisfério norte, porque no hemisfério sul é primavera, e lá outubro equivale ao abril do nosso hemisfério. O que nos deve levar sempre a pensar: há muito, mas muito mais mundo além do nosso pequeno mundo.

José António Gomes

Escola Superior de Educação do Porto