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A Pimenta morreu. A Pimenta não aguentou os tratamentos. A Pimenta estava demasiado frágil para suportar a cura. A Pimenta já chegou até nós num estado tão deplorável que a corrida contra o tempo foi desigual. Ficámos perdidos na pista. Arrancámos na máxima força, demos tudo, sprintámos a valer, mas já íamos muito para trás e bem sabemos que tínhamos voltas de atraso. Sabemos todos, os que todos os dias somos voluntários nas nossas pequeninas escolhas, sem precisar de pertencer a nenhuma associação.

Embora para nós o Dia Mundial do Animal tenha lugar o ano todo, de segunda a domingo, 24 horas por dia, o dia de hoje serve para nos lembrar que estaremos sempre na corrida e que nos esforçaremos arduamente para alcançar todas as metas. Amanhã, dia 5, dia 6 e dia 7 e dia 8 serão todos iguais.

Por isso, neste Dia Mundial do Animal, gostamos de pensar que o IRA é de todos, não só quando salvamos cães, gatos, cavalos, o que for, mas, acima de tudo, quando acreditamos que salvamos pessoas e um bocadinho do mundo. Sim, salvamos da violência, da indiferença, da ignorância, do preconceito, da tirania, do desprezo, do desleixo, da inércia, da alienação, do egoísmo, do atraso civilizacional ou geracional. A nossa Pimenta morreu de todas estas doenças e nós retivemos as lágrimas para nunca desistirmos.

Neste Dia Mundial do Animal, honramos mais uma vez o vosso interesse, o poder estar aqui e escrever estas palavras e quem sabe sermos lidos por mais pessoas do que esperamos. É impossível evitar o sorriso quando pensamos nisso, é um orgulho desmedido que faz valer cada minuto de dedicação, de esforço, do reacender da esperança. Somos pessoas normais como cada um de vós e ficamos felizes com esse reconhecimento. E todos os gestos contam: em cada e-mail de cada professor que nos pede para visitar a sua escola, em cada composição de cada aluno que nos recebeu e quer aprender a cuidar dum cão, em cada anónimo que sentiu empatia pela nossa página e interrompeu o scroll para nos seguir, em cada mensagem de força e apoio por parte de tantos milhares de seguidores. Agradecemos, por isso, todos os dias.

A Pimenta estava esquelética, cheia de feridas, sede, fome e dor, a Pimenta sofreu violência, maus-tratos, abandono e desprezo. A Pimenta foi saco de pancada da brutalidade e da negligência. A Pimenta foi cruelmente tratada, mas teve um final de vida feliz. Ficámos colados a ela no meio da estrada, pedimos aos carros que parassem, e olhos nos olhos, pedimos-lhe para nos deixar salvá-la. Não a largámos de noite e de dia, demos-lhe afeto, carinho e amor, acariciámos as suas feridas e abraçámos o seu coração amolgado, sedento e pobre. Fomos tantos à sua volta, corações vibrantes a pulsar pelo mesmo. “Salva-te, Pimenta... e vai ser feliz!”.

Voltamos a deixar o convite para todos, para abraçarem um calendário diferente todos os dias do ano. Para cuidarem, esculpirem a consciência, darem asas à evolução. Lembrem-se deles todos os dias. Tornem-se melhores, mais atentos, mais completos. Não precisam de ser animal lovers, não vão em modas. Os animais não precisam disso. Precisam, sim, da vossa sensibilidade, do vosso coração preparado para os ajudar. São milhares e milhares a necessitar de ajuda, serão sempre indefesos, serão sempre impotentes. Todos os dias são dias de ajudar ou denunciar ou travar, não deixem passar. E pode haver uma Pimenta ao virar de cada esquina.

Obrigado, desde já, a todos os que antes baixavam os olhos e seguiam caminho, a todos que ouviam ganir na varanda do lado e não ligavam, a todos os que sabiam e não contavam, a todos os que não queriam saber porque tinham mais em que pensar. Antes era assim, agora não. Agora falam, denunciam, ajudam, influenciam, defendem. Estão mais despertos e contagiam outros para isso. Celebramos a vossa coragem neste Dia Mundial do Animal. Não imaginam o impacto que têm num mundo mais bonito e mais justo.

 

Núcleo de Intervenção e Resgate Animal