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Dia Mundial da Poesia
3/18/2022
O melhor pão é o de farinha menos refinada, o de miolo mais elástico. Mastigamos às vezes fragmentos de grão e sentimos um travo a terra sã. Na côdea, ou mesmo no miolo.
Fala-escrita que em tempos muito idos foi apenas canto e fala, a poesia (que também se come e se saboreia) é o grão da Língua que, por seu lado, é o pão nosso de cada dia comunicante, pois somos seres de palavras – ainda que nem todos sejam «homens de palavra».
Tomai e comei – poderiam pois dizer os poetas. Tomai e comei esse pão que mil formas e gostos assume. Tomai e comei. Saboreai e senti na poesia o grão da Língua.
«A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Oração ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero alimentam-na. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, esconjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes.» Isto escreveu o grande poeta mexicano Octávio Paz (1914-1998), prémio Nobel da Literatura (1990), no seu livro O Arco e a Lira. E vale a pena meditar em cada uma das suas sábias palavras.
É por tudo isto e muito mais que é essencial a presença da poesia de qualidade na escola e na sociedade. Desde o pré-escolar à idade adulta, passando por todos os níveis de ensino: básico, secundário e superior.
João Pedro Mésseder