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A importância do bem-estar na conservação de animais selvagens
2/10/2022
No meio selvagem, os animais desenvolvem e realizam uma multiplicidade de comportamentos de acordo com as suas necessidades individuais, do grupo social em que se inserem e do habitat natural que ocupam. O habitat natural proporciona uma enorme variedade de estímulos que desencadeiam respostas fisiológicas e comportamentais determinantes para o bem-estar de determinada espécie.
É de extrema importância reconhecer essas necessidades de bem-estar de um animal selvagem, o que só é possível depois de o conhecermos, não apenas do ponto de vista morfológico, mas acima de tudo, comportamental. Consoante a espécie e o meio onde se encontra inserido, seja em ambiente selvagem ou sob cuidados humanos, as suas necessidades de bem-estar variam.
Para os animais selvagens que não se encontram sob cuidado humano, a influência da população humana pode ser severa uma vez que a presença do ser humano influencia diretamente o ambiente em que se insere. Infelizmente, grande parte do impacto da ação humana é destrutiva e tem sido devastadora para a conservação da Natureza. Esta ação destrutiva está diretamente relacionada com o bem-estar das espécies que habitam neste grande ecossistema que é a Terra. Segundo o último relatório das Nações Unidas, cerca de um milhão de espécies estão ameaçadas por ação da atividade humana. Cabe a cada um de nós marcar a diferença entre a destruição e a conservação.
Os animais selvagens dos parques zoológicos e centros de recuperação vivem num ambiente controlado onde se aplicam estratégias como o Enriquecimento Ambiental, cujo único objetivo é garantir o bem-estar individual de cada animal e do grupo, tendo em vista a sua conservação na Natureza. Trata-se de um conceito aplicado no ambiente dos animais que são mantidos sob cuidados humanos que visa preservar os seus comportamentos selvagens. Pretende também aumentar as possibilidades de escolha dos animais, colocá-los frente a novas situações e possibilitar que lidem com desafios de uma forma selvagem. Este é um processo dinâmico que vai ao encontro das características biológicas e comportamentais das espécies.
Conservação e bem-estar animal estão estreitamente ligados. Não só o bem-estar animal é importante por razões éticas, mas também, assegurar o melhor nível possível de bem-estar animal é fundamental para que um parque zoológico moderno cumpra as suas funções de educação e conservação. Bem-estar animal é portanto um conceito multidimensional que se refere ao estado físico, mental e comportamental dos animais. Efetivamente, é o modo como determinado animal, individual, lida com um momento particular no tempo, o que significa adotar uma abordagem multidisciplinar baseada numa visão científica para garantir que as necessidades do animal estão cobertas. Isto inclui, por exemplo, cuidados veterinários adequados, requisitos nutricionais apropriados a cada espécie/indivíduo, proporcionar aos indivíduos a oportunidade de realizar o seu reportório comportamental de acordo com a espécie e promover estados emocionais positivos. Assim, o bem-estar refere-se ainda ao estado de um individuo em relação ao seu ambiente. É, fundamentalmente, o resultado da interação do animal com o ambiente que o rodeia.
A importância do bem-estar animal para os parques zoológicos modernos é reconhecida por Associações europeias e mundiais, destacando-se a World Association of Zoos and Aquaria (WAZA), a European Association of Zoos and Aquaria (EAZA) e a Alliance of Marine Mammal Parks and Aquariums (AMMPA), que definem estratégias de atuação para o cumprimento da sua missão através de um código de ética e bem-estar animal. Este código inclui o princípio de que todas as ações realizadas num animal devem ter como objetivo final a conservação da espécie enquanto garante o seu bem-estar.
Alertar para o problema da redução da biodiversidade mundial, incentivar comportamentos sustentáveis e reforçar a importância das escolhas individuais para a conservação da Natureza constituem uma função determinante para a sensibilização da população. Este é um papel fundamental dos parques zoológicos modernos – despertar a população para a importância da conservação das espécies e dos seus habitats, e motivar à ação a favor da conservação da vida selvagem. Mais do que estimular à ação é imprescindível a aquisição de ferramentas práticas que permitam a cada pessoa ter uma participação ativa na conservação da Natureza diariamente.
Jardim Zoológico de Lisboa
