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As Janeiras
12/23/2021
O início do mês de Janeiro é conhecido pelas cantorias que se fazem de porta em porta. São as Janeiras. Cantos aos Reis, a Janus, e ao ano que aí vem.
O que são as Janeiras?
As Janeiras são cantares que se fazem como desejo de bom ano, ao mesmo tempo que se pede uma recompensa (sobras das noites abastadas de Natal, bolos, lembranças, dinheiro) como contrapartida.
São entoados durante a noite, logo no início de Janeiro, entre o dia 1 e o dia 6, este último conhecido como Dia de Reis, em lembrança dos Reis Magos, razão pela qual são muitas vezes confundidas com os Cantares dos Reis.
Era antes um gesto comum entre as classes mais pobres que, por hábito, batiam às portadas dos senhores mais abastados das suas aldeias e vilas – razão pela qual Zeca Afonso intitulou a sua janeirada de “Natal dos simples”. Hoje, embora esta separação ainda possa acontecer, as Janeiras são um ato transversal, levando a que muitos homens e mulheres, independentemente da classe, se juntem em cantoria ambulante. Recentemente, para combater o seu desaparecimento enquanto manifestação improvisada, alguns municípios têm apostado na organização de concertos em espaços públicos – jardins municipais, coretos e casas da cultura.
Origem das Janeiras
As Janeiras vão buscar o seu nome a Janeiro, que por sua vez vai buscar o seu nome a Janus, Deus das Portas do Céu ou, de outra forma, Deus dos Princípios ou das Entradas.
Janus é retratado como um Deus de duas faces, viradas para sentidos opostos, representando assim o que passou e o que está para chegar – e assim se colou à imagem de transição e, na prática, à ideia de passagem de ano.
Janus, Deus das Transições, representado como velho e novo, passado e futuro
Foi uma Deidade bastante cultuada pelos romanos nesta altura do ano, a quem se pedia sorte para o porvir. As nossas Janeiras, entretanto cristianizadas com canções ao menino Jesus (mas não só), a nova luz, derivam dessas fartas Saturnais e Strenas romanas, onde o regresso ao ciclo solar da Terra era saudado.
Levou, com o tempo, revestimento novo, onde se encaixaram melodias que intercalam o maldizer e a religiosidade, suportadas por instrumentos típicos: a viola clássica, o reco-reco, os ferrinhos, a flauta e o bombo são presenças assíduas. Outros também, dependendo da região. E, por vezes, nem instrumentos são necessários – basta que a voz não gele.
As Janeiras chegaram mesmo a ser erradicadas da cidade de Lisboa e arredores por se tratarem de resquícios pagãos num país já definitivamente cristianizado. No campo, contudo, a tradição nunca desvaneceu, parecendo até ser impulsionada pela proibição de que foi vítima na capital.
Fonte: https://www.portugalnummapa.com/janeiras/ (adaptado)