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Entrar na escola aos 5, aos 6 ou aos 7?
5/15/2023
Entre 2010 e 2020, mais do que duplicou o número de alunos que aos 6 anos permanecem no ensino pré-escolar. Muitas mães assumem essa decisão com o argumento de, com este adiamento, estarão a dar aos seus filhos a oportunidade de serem, por mais um ano, crianças!
É claro que se torna alarmante que a escola seja incompatível com o direito das crianças à sua infância. Mas, “exagero” à parte, a educação da maior parte das crianças com 6 anos dá-lhes escola em excesso. Levando-as a sentir uma rutura abrupta entre experiências lúdicas, de descoberta e de experimentação para rotinas muito mais expositivas e sedentárias.
É claro que os 6 anos valem o que valem. Querem, sobretudo, dizer que por essa idade existirá, em todas as crianças, um mínimo denominador comum de autonomia, de “maturidade”, de competências cognitivas, de recursos emocionais e afetivos, e de sociabilidade que nos fazem assumir que estarão “prontas” para o primeiro ciclo.
Hoje, entendo a opção que parece estar a tornar-se uma “tendência” que se vai instalando. E não a reprovo. É excelente que as crianças aprendam sem querer as letras e a leitura. Pareçam pedir, cada vez mais, operações matemáticas. Acedam ao jogo e, através dele, a raciocínios cada vez mais complexos. “Apanhem no ar” conhecimentos que “dominam” muito antes de os conceptualizarem. “Leiam” as histórias nos olhos dos pais e, dessa forma, acedam, com virtuosismo, à palavra. Aprendam com o corpo e nunca contra o corpo. E apurem a motricidade e a atenção. O que as leva a pensar de um jeito mais expedito e, surpreendentemente, mais rico. E, antes de irem à escola, estejam cada vez mais preparadas para ela. Como se aprender fosse um rearranjo de muitas peças de um puzzle já muito encaixadas umas nas outras.
É evidente que não se trata de fazer de um procedimento destes uma regra que se tenha de estender a todas as crianças. Continuará a haver crianças que entram “mais cedo” na escola. E muitas outras que entram aos 6. Mas quanto mais a escola se adequar à forma e aos ritmos de aprendizagem de cada criança, em vez de as querer “normalizar”, mais a relação que todas elas terão com o conhecimento tornará o seu futuro escolar num lugar melhor.
Por Eduardo Sá