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Pandemia e notas altas
10/25/2023
Voltou, recentemente, a falar-se das notas durante a pandemia. As notas dadas pelos professores foram mais altas na pandemia e no ano que se lhe seguiu.
As notas são a forma possível de avaliar conhecimentos. A forma possível. Nem sempre a mais fidedigna. Porque nem sempre elas traduzem, de modo correto, o nível de conhecimentos de um aluno. A maneira como “guarda” conhecimentos. E como os articula, discorre sobre eles, os usa e recria.
É, todavia, compreensível que, durante a pandemia, os professores, com realismo, tivessem baixado expectativas, metas de aprendizagens e níveis de exigência. E que tenham tentado adequar os critérios avaliativos a uma conjuntura de catástrofe como aquela que aconteceu. Os professores poderão ter sido mais condescendentes com o erro. E mais benevolentes nas notas. E, ao fazê-lo, terão sido, simplesmente, sensatos. Até porque tinham, como mais ninguém, a consciência da disparidade de recursos que os seus alunos tinham ao seu dispor para enfrentar a pandemia. Alguns, com pais empenhados e disponíveis, escolas esforçadas e com recursos tecnológicos e acesso ilimitado a dados. Outros, com carências sociais, financeiras, educativas e tecnológicas muito, muito grandes.
Da pandemia ficaram sequelas graves. “Recuperar aprendizagens” supõe que se reconheça que houve conhecimentos que se perderam. Por mais que outros não tenham, pura e simplesmente, acontecido. Sendo que os conhecimentos que, hoje, se aprendem precisem dos pilares, das vigas e das argamassas dos conhecimentos anteriores.
Constatar, em manchete, que as notas dadas pelos professores foram mais altas na pandemia e no ano que se lhe seguiu sem mais nada, não sendo intencional (e não terá sido) é, no mínimo, muito pouco razoável. Para os professores, acerca dos quais pode passar a ideia de que enquanto se iam alarmando com as recuperações curriculares iam subindo as notas dos seus alunos. E para os alunos porque, com o tempo, vai passando a ideia que, com a pandemia, talvez não se tenha passado quase nada de tão mau assim com as suas aprendizagens e com os eu futuro. O que é duma infelicidade sem fim.
Por Eduardo Sá