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    Dia Internacional da Felicidade

    Dia Internacional da Felicidade

    3/17/2022

    «A paz, o pão, habitação, saúde, educação (…)». É assim que a letra duma conhecida canção de Sérgio Godinho sintetiza algumas das que podemos considerar condições básicas para a felicidade. Não todas, claro (quem não acrescentaria «a liberdade de mudar e decidir», como escreve o mesmo cantor, ou a justiça social ou um trabalho dignamente remunerado?) Mas foi também com esse espírito que, em 2012, a Organização das Nações Unidas proclamou a data de 20 de março como o Dia Internacional da Felicidade. Assim se reconhecia o valor da felicidade e do bem-estar como metas nas vidas das pessoas de todo o mundo, bem como a importância de a felicidade ser reconhecida nas políticas públicas. Ou seja, políticas cujos propósitos sejam acabar com a pobreza, reduzir desigualdades e proteger o planeta. É, aliás, a própria ONU que assinala estes três aspetos como essenciais para o bem-estar e a felicidade humana.

    Mas é claro que a felicidade (que talvez só o possa ser se as tais condições da canção se acharem preenchidas) depende de muitos outros fatores de ordem subjetiva e da esfera sócio afetiva. Alguém resistirá a colocar nesta lista generosa certas eventuais condições da felicidade como a amizade, o amor e o companheirismo, o quadro familiar, a saúde ambiental, a possibilidade de realizar sonhos e tantos outros? Alguém resistirá, por outro lado, a acrescentar que, por vezes, a sensação de felicidade depende do temperamento de cada um e da fraternidade envolvente? O filósofo grego Epicteto, um estoico, terá mesmo escrito: «Não busque a felicidade fora, mas sim dentro de si, caso contrário nunca a encontrará.»

    Talvez a comemoração do 20 de março seja, pois, um pretexto positivo e útil para suscitar nas nossas escolas, nos tempos sombrios em que vivemos, uma discussão séria e participada sobre as condições da felicidade, começando pela condição da paz. Diria, à partida, que todas ou quase todas as disciplinas do currículo são espaços adequados para tal reflexão, orientada pelo professor, até porque, tratando-se dum tema de cidadania, talvez não se esgote nessa dimensão, e a sua transversalidade parece óbvia.

    O ponto de partida? Por que não a canção de Sérgio Godinho, de seu título «Liberdade»? Ou o «Hino da Alegria» (ou «Ode à Alegria»), o poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto andamento da 9.ª sinfonia de Beethoven? Nesta composição, Schiller olha para a raça humana como uma irmandade, perspetiva que tanto ele como Beethoven partilhavam.

    A felicidade de cada um envolve, sem dúvida, muito de subjetivo e cada pessoa terá a sua ideia do que é ser feliz. Pela minha parte, gosto de pensar, como Antoine de Saint-Exupéry, que «a verdadeira felicidade vem da alegria de atos bem feitos, do sabor de criar coisas renovadas.» E com este pensamento fica outra sugestão. Talvez o dia 20 de março seja um bom pretexto para a leitura ou releitura justamente de O Principezinho, de Saint-Exupéry, essa obra com tantas, tão poéticas e tão cativantes reflexões sobre… a felicidade.

    Mas permita-se uma derradeira sugestão, mencionando escritoras portuguesas: experimente-se ler O Elefante Cor de Rosa ou História com Recadinho, de Luísa Dacosta, ou mesmo A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Qualquer destes belíssimos livros para a infância (e para todos) suscitará certamente reflexões bem pertinentes sobre os caminhos para a felicidade.

     

    José António Gomes

    Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto

     

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