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    Dia Internacional para a Tolerância

    Dia Internacional para a Tolerância

    11/15/2021

    A tolerância tornou-se, e bem, um dos valores de referência em debates de natureza política, e não só, designadamente nos países ocidentais. E dizemos bem, pois, nas nossas sociedades abertas e mais ou menos multiculturais, vivem-se paradoxalmente dias em que a intolerância étnica/racial, cultural ou social saltam com frequência para as primeiras páginas dos noticiários. Na escola, o próprio ‘bullying’ é primeiramente uma situação de intolerância e logo a seguir de violência, ambas inaceitáveis e configurando comportamentos indignos de uma escola inclusiva e democrática.

    E, no entanto, a tolerância reclama também reflexão sobre as suas implicações, mesmo em contexto escolar. Com efeito ela envolve sempre, no mínimo, uma relação de dois: o que tolera e o tolerado. Ora, uma relação de tal natureza implica uma assimetria do segundo em relação ao primeiro, encontrando-se este num plano superior – porque, por exemplo, pertence à maioria (étnica, cultural, nacional, religiosa, de género…) enquanto o outro pertence a uma minoria (que também pode ser de tipo étnico, cultural, nacional, religioso, de género…). Nesse caso, o que significa ser tolerante? Que dificilmente aceitamos tal minoria, mas que a toleramos, a ela e aos seus traços identitários, por exemplo? Eis uma situação em que talvez fosse importante substituir a tolerância por algo diferente, como, por exemplo, a aceitação ativa da diversidade. Uma aceitação marcada por um sentido inclusivo, integrador, fraterno, e em que a curiosidade autêntica em relação ao outro e à sua cultura deve constituir um valor em si. 

    Equacionemos outra dimensão: ser tolerante significa tolerar a «lei» da desigualdade entre homens e mulheres numa dada comunidade? Significa tolerar a desconsideração da mulher enquanto ser humano, a quem é negado o direito à individualidade e independência, ao respeito pelo seu corpo, à educação, a ter uma profissão escolhida por si e a seguir uma carreira? Significa tolerar, nas sociedades ocidentais e noutras, ditames intolerantes e discriminatórios de algumas confissões religiosas em relação à mulher; ou costumes que ditam matrimónios em idade infantil ou violações grosseiras dos direitos da criança? E que diríamos da forma como são tolerados, na nossa própria sociedade, a desigualdade social gritante e aqueles que a pomovem?

    São questões que propomos para reflexão, pois, quer queiramos quer não, quase todas acabam por ter impacto na escola, enquanto microcosmos sociocultural, espécie de mundo à escala miniatural.

    Iniciativa da UNESCO, o Dia Internacional para a Tolerância foi proclamado através da Resolução 51/95 adotada pelas Nações Unidas em 12 de dezembro de 1996, e assinala-se, anualmente, a 16 de novembro, «para lembrar a importância, numa sociedade, dos valores democráticos como o respeito pelo outro e pela diferença», como se lê no portal EUROCID. E o texto acrescenta: «ser tolerante significa reconhecer, aceitar e defender os Direitos Humanos fundamentais, para que seja possível viver em comunidade e no ambiente de Paz».

    Revemo-nos nestas formulações generosas e positivas num tempo em que a xenofobia, o racismo, a discriminação de emigrantes e refugiados se encontram, de forma dramática, na ordem do dia na Europa.

    É desejável, por isso, que as nossas escolas se não alheiem destes temas e que saibam debatê-los de maneira informada e racional. E ainda que pequenos projetos educativos neles focados acabem por gerar leituras e discussões de livros, recitais de música e de poesia, visionamento de filmes, exposições documentais, eventos centrados no conhecimento das outras culturas, visitas de estudo a museus (como o do Holocausto, no Porto) e outras atividades. E acima de tudo que se leia. Que se leiam textos que alimentem devidamente este urgente debate. Por exemplo, obras literárias infanto-juvenis como Bichos, Bichinhos e Bicharocos, de Sidónio Muralha, «Meninos de todas as cores» (em O Meio Galo) e Os Ovos Misteriosos, de Luísa Ducla Soares, Aristides de Sousa Mendes, Um Homem de Coragem, de José Jorge Letria, O Grilo Verde, de António Mota, O Dinossauro, de Manuela Bacelar, Uma Questão de Cor, de Ana Saldanha, O Aquário, de João Pedro Mésseder, Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa, de Judith Kerr, A Ilha na Rua dos Pássaros e Corre, Rapaz Corre, de Uri Orlev, O Sapo e o Estranho, de Max Velthuijs, Rosa Branca, de Roberto Innocenti e Christophe Gallaz. Mas que se leiam também livros para adultos e adolescentes tão admiráveis como Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, O Mundo em Que Vivi e Sob Céus Estranhos, de Ilse Losa, Se Isto É Um Homem, de Primo Levi, As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, Por Favor Não Matem a Cotovia, de Harper Lee, O Rapaz de Pijama às Riscas, de John Boyne, Um Longo Caminho para a Liberdade, a autobiografia de Nelson Mandela, ou O Jardim Adormecido e outros poemas, de Mahmud Darwich. 

     

    José António Gomes

    Escola Superior de Educação do Porto


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