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    Um carvão preto no sapatinho

    Um carvão preto no sapatinho

    12/23/2019

    Estamos quase, quase, no Natal. E, considerando o dia de amanhã, houve muitos pais que, diante das notas de alguns dos seus filhos - e depois de terem utilizado todos os argumentos a que foram capazes de deitar a mão para os trazerem à razão - decidiram não lhes dar prendas. Como forma de os castigarem, com enorme dureza, por todas as omissões (dentro da escola e fora dela) que lhes reconheceram neste primeiro período. Para que os pais cheguem a uma decisão do género: “No sapatinho, tens um carvão preto”, muitas coisas, muito graves, se deverão ter passado. Mas, ainda assim, convém que não se percam de vista alguns “pormenores”.


    1.    Todas as crianças (mas todas, mesmo!) adoram ter boas notas! E todas as crianças, porque são pequeninas, por mais que sejam briosas e empenhadas, não têm “método”, não são disciplinadas e não são capazes de planear ou de gerir o seu estudo. Aliás, (um dia vamos ter de falar disto) a própria escola não as ensina a estudar. E, para mais, as crianças acreditam que, havendo quem olhe (mesmo que magicamente) por elas, nada de mal lhes vai suceder. Logo, nunca acreditam que alguma catástrofe possa vir a acontecer.

    2.    As notas muito “constipadas” de algumas crianças têm um bocadinho da responsabilidade delas; é verdade. Mas são, muitíssimo mais, da responsabilidade da escola. E a elas, acentue-se, os pais não são tão estranhos como, por vezes, alguns parecem imaginar.

    3.    Quando os pais castigam com dureza, a ideia será mais ou menos esta: “Se te “doer” muito o meu castigo, essa dor não vai nunca desaparecer da tua memória e, em função dela, passarás a ter outro empenhamento”. Ou, ainda: “Se ficares muito revoltado com um castigo destes, a raiva que isso te provocará vai alavancar todas as tuas qualidades e, aí sim, ficarás imparável!”. É claro que uma ilação tão linear é escorregadia. Quando uma criança vai ficando encolhida, encolhida e encolhida, em função das notas “más” que vai tendo, não ter prendas, quando todos os outros as têm, equivale a uma humilhação das grandes. Que ficará, para sempre, marcada na sua memória; claro. Mas que, quando se está “para baixo”, não lhe dá o empurrão “para ali acima” que os pais desejam. Muitas vezes, empurra-a, ainda mais, para “baixo”. E isso é mau!

    4.    Aquilo que as prendas sinalizam não é o bom comportamento. E, muito menos, o bom comportamento escolar de um filho. Mas a presença que uma criança tem dentro dos pais e a sua capacidade de a conhecerem até nos seus desejos mais secretos. Em função disso, fazer depender um gesto de amor das boas notas, equivale a dizer, por outras palavras: “Eu amo-te. Se (e só se) tiveres boas notas.” Tudo ao contrário daquilo que os pais pretendem.


    Por tudo isto, está, ainda, a tempo de repensar a sua decisão de castigar o seu filho com as prendas que ele não terá por causa das “más” notas que, entretanto, lhe chagaram a casa. E que, para surpresa sua, se transformaram numa “rica prenda” de Natal. Depois, pense muito a sério acerca daquilo que deve reformular em relação ao que lhe deve exigir. Empenhe-se, de outra forma, no modo como o ajuda a aprender a estudar. Exija da escola aquilo que entende ser justo exigir. E comece o ano, “dando com uma mão e exigindo com a outra”. No entretanto, troque prendas. E tenha um Feliz Natal!

    • Pais e família