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Estrada para a escola nova
10/3/2022
Todos temos permitido que a escola se encurrale numa “atmosfera” amiga do individualismo, da competitividade (por vezes) insana, da reprodução mecânica de conhecimentos e da produção (rápida!) de resultados. E que se tenha transformado numa escola que imagina que as crianças saudáveis são sossegadas, caladas e obedientes. Que não são nem curiosas, nem autónomas, nem pensantes. E que crescem saudáveis e de forma íntegra e integral, numa escola que as tem fechadas, que as empanturra com informação, que supõe que muita escola é melhor escola, que interpreta o brincar como a antítese do trabalho, e que não pondera, a partir de todas as horas de trabalho que lhes exige, qual é a linha que separa o tempo que lhes é devido para a sua educação indispensável, do trabalho infantil. Uma escola pouco amiga da atividade física, da criatividade, da formação artística e da palavra. Demasiado desatenta em relação à imaginação, à fantasia, à descoberta e à experimentação. E presumindo que todos aprendem do zero, da mesma forma e à mesma velocidade.
Precisamos de inventar uma nova escola. Onde a educação indispensável não abalroe o direito à infância. Onde os conhecimentos de todos não se oponham à sabedoria de cada um, aos seus ritmos e à sua forma singular de conhecer. Onde o desenvolvimento cognitivo não se oponha ao desenvolvimento físico, afetivo, simbólico e artístico de todas as crianças. Onde a existência de programas ou de conteúdos escolares não se oponha à autonomia das escolas e dos professores. Onde a sala de aula não se oponha ao ar livre e ao mundo. Onde as aulas não se oponham ao recreio. Onde a conquista de conhecimentos não se oponha à criatividade. Onde o número não se oponha à palavra. Onde a formação científica não se oponha aos faz-de-conta. Onde a rivalidade não se oponha à cooperação. Onde as novas tecnologias não se oponham ao direito fundamental de desenhar as letras e de contar pelos dedos. Onde o corpo não se oponha ao pensamento. Onde a escola não se oponha ao brincar. E onde melhor escola não signifique menos infância. Só assim a (nova) escola passará a ser a estrada que nos leva da escola do passado à escola do futuro.
Eduardo Sá