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    Relação entre pais e filhos: uma travessia difícil

    Relação entre pais e filhos: uma travessia difícil

    7/31/2019

    A relação entre pais e filhos é semelhante a percorrer uma corda bamba. Há momentos em que a corda oscila, obrigando a um intenso esforço físico e mental em busca do equilíbrio. Há momentos em que a corda está firme, sem mexer, o que torna o percurso suave e quase inconsciente. Há momentos em que a corda oscila violentamente, deitando abaixo quem a percorre e obrigando-o a um esforço violento para não cair no abismo.

                  A relação entre pais e filhos adolescentes é uma travessia da corda bamba com todas as possibilidades de sucesso e insucesso. Há várias forças que justificam esta instabilidade. Ser adolescente implica procurar um espaço de autonomia, o que desencadeia um gradual afastamento dos pais, que deixam de ser a referência central ou a primordial.

    (− Tu não percebes nada…)

    Os amigos ganham uma importância até aí desconhecida e as cumplicidades começam a aparecer.

    (− Prefiro conversar com a Rita…)

    O diálogo torna-se mais difícil e as confidências, que antes eram espontâneas, vão sendo cada vez mais raras. É neste momento que muitos pais sentem que perderam o controlo da situação. Este sentimento é real, pois é também a autoridade parental e os modelos até aí veiculados que começam a ser questionados e, por vezes, substituídos.

                  Quando se passa por uma experiência como esta, importa não perder a calma. Forçar os filhos a falar é silenciá-los ainda mais. Pô-los de castigo é afastá-los. Controlá-los em excesso é estimular os segredos. Há que aceitar que é impossível saber cada momento, cada escolha, cada amigo, cada opção.

    (− Eu é que sei…)

    Há que compreender que os segredos são normais. Até as pequenas mentiras.

    (− Nunca fiz isso…)

    Esta é uma fase difícil na evolução do relacionamento entre pais e filhos porque implica adaptação. A melhor forma de a viver passa pela construção de espaços de diálogo, não forçado mais estimulado. O silêncio não pode imperar. Há que falar, nem que seja de banalidades. A supervisão, exercida de forma discreta, é também fundamental. Perceber que tipo de amigos acompanham o filho, como ele encara a escola e a aprendizagem, como usa as tecnologias, onde vai quando sai. Fundamental também é não abdicar de determinadas regras. Esta opção permitirá ao adolescente reorganizar o mundo, sabendo que há limites, que a autonomia nunca poderá ser sinónimo de abuso de liberdade ou de egoísmo. Há que respeitar e exigir respeito. Amar e procurar compreender e ajudar.

                  Deste modo, a corda bamba continuará a oscilar, a ameaçar deitar ao chão quem a percorre ou mesmo a querer rebentar, mas quem a atravessa não se sentirá tão indefeso porque sabe que, ainda que caia, há uma rede que o protegerá e que, ainda que balance, há uma vara que ajudará ao equilíbrio.

                  Ser mãe e pai é uma travessia difícil, mas cada passo em frente significa uma conquista inigualável. É por isso que não desistimos.

    Por Carla Marques

    • Pais e família