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    Dia do Livro Português- 14 sugestões

    Dia do Livro Português- 14 sugestões

    3/22/2021

    Para assinalar e comemorar o Dia do Livro Português, 26 de Março, que pode uma Escola Amiga da Criança fazer? Esta a pergunta que se coloca e à qual a criatividade de docentes, alunos e pais saberá decerto responder.

    Com muitas ideias em cima da mesa, diferentes sugestões de trabalho poderão emergir. Elencaremos então algumas.

    1. Pense-se a forma adequada de explicar aos alunos ter sido a Sociedade Portuguesa de Autores a instituir o Dia do Livro Português, a 26 de Março. Motivo: o facto de neste dia, em 1487, se ter imprimido o primeiro livro em Portugal: o “Pentateuco”, saído das oficinas do judeu Samuel Gacon, em Faro, e escrito em hebraico. Uma data, afinal, para celebrar a riqueza da nossa cultura editada em livro –esse objeto que não morre, ao contrário do que se pensava. Mas um pretexto também para valorizar o idioma em que esses saberes se exprimem – o Português – e a sua projeção mundial.


    2. Realize-se, nos dias anteriores e subsequentes, uma mostra biobibliográfica em que estejam patentes um livro e um retrato de cada um de vários escritores portugueses de referência (com datas de nascimento e morte), por exemplo uma seleção de alguns dos que se seguem: Fernão Lopes, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, Camões, Fernão Mendes Pinto, Padre António Vieira, Marquesa de Alorna, Bocage, Garrett, Camilo, Júlio Dinis, Eça, Antero, Cesário, Gomes Leal, Camilo Pessanha, Nobre, Raul Brandão, Pascoaes, Aquilino, Pessoa, Sá-Carneiro, Almada, Régio, Irene Lisboa, Torga, Nemésio, Soeiro Pereira Gomes, Redol, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Agustina, Vergílio Ferreira, Sena, Sophia, Cesariny, Saramago, Ruy Belo, Herberto Helder e outros. Pensando nos 1.º e 2.º ciclos, restrinja-se esta seleção a uns dez nomes e contemple-se sempre um ou outro nome de indiscutível mérito com ligações à região (Teixeira Gomes ou António Ramos Rosa certamente no Algarve; Rodrigues Lobo e Afonso Lopes Vieira na região de Leiria; João José Cochofel e Joaquim Namorado em Coimbra; Afonso Duarte em Montemor-o-Velho; João de Araújo Correia no Douro; Álvaro Feijó em Lousada; Couto Viana em Viana do Castelo; Ary dos Santos em Lisboa; Herberto Helder na Madeira, para apontar alguns exemplos).


    3. Ainda que não tenham lido os textos (exceto um ou outro fragmento ou composição mais simples), mesmo no 1.º ciclo importa que os alunos se habituem a conviver com nomes fundamentais da nossa cultura e da nossa literatura e com um ou outro aspeto das suas vidas (D. Dinis, o rei poeta; Gil Vicente, ‘fundador’ do teatro português; Camões como príncipe dos poetas; Pessoa como o mais importante escritor do século XX português; Saramago enquanto Nobel da Literatura…).


    4. Com as crianças mais novas, e sem prescindir de nomes referenciais (Camões, Camilo, Eça, Pessoa…) procure-se que o património editorial português esteja representado por alguns livros infantis ilustrados de mérito reconhecido, como os clássicos:

    ▪ “Contos para a Infância” (1875), de Guerra Junqueiro;

    ▪ “Contos Tradicionais Portugueses”, de Ana de Castro Osório;

    ▪ “Animais Nossos Amigos” (1911), de Afonso Lopes Vieira;

    ▪ “Romance da Raposa” (1924) e “Arca de Noé III Classe” (1936), de Aquilino Ribeiro;

    ▪ “O Romance das Ilhas Encantadas” (1926), de Jaime Cortesão;

    ▪ “Bichos, Bichinhos e Bicharocos” (1949), de Sidónio Muralha;

    ▪ “A Menina do Mar” (1958), “A Fada Oriana” (1958), “O Cavaleiro da Dinamarca” (1964), de Sophia;

    ▪ “A Menina Gotinha de Água” (1962), de Papiniano Carlos;

    e outras obras ainda para crianças e jovens de autores como António Sérgio, Maria Lamas, Redol, José Gomes Ferreira, Olavo d’Eça Leal, Henrique Galvão, Alice Gomes, Lília da Fonseca, Simões Müller, Ricardo Alberty, Mário Castrim, Leonel Neves, Ilse Losa, Matilde Rosa Araújo, Luísa Dacosta, Manuel António Pina, Maria Isabel de Mendonça Soares, Maria Alberta Menéres… E é claro que os nomes mais relevantes da atual literatura para crianças deveriam igualmente estar representados nessa mostra bibliográfica (Esther de Lemos, António Torrado, Luísa Ducla Soares, Alice Vieira, Violeta Figueiredo, Letria, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Álvaro Magalhães, Fanha, António Mota, Ana Saldanha, Margarida Fonseca Santos, Rita Taborda Duarte, Nuno Higino, Carla Maia de Almeida, Afonso Cruz, Isabel Minhós Martins…). Será importante que as crianças possam consultar, folhear, ver e tocar esses livros.


    5. Promova-se nas aulas a leitura expressiva duma pequena seleção de fragmentos das obras destacadas. Mesmo no 1.º ciclo, tem especial significado que tal aconteça, pois encontramos pequenos poemas de Camões (“Descalça vai para a fonte”, “Sete anos de pastor”), de Antero (“As fadas”), de Pessoa (“Poema pial”, “O mostrengo”) e doutros poetas, ou contos e fragmentos de prosa de um Vieira (por exemplo sobre a guerra), um Aquilino, uma Irene Lisboa, um Soeiro Pereira Gomes, um Saramago que são suscetíveis de ser lidos e entendidos. Isto se se valorizar em especial uma compreensão global do texto, a “música” das suas palavras e as emoções que ele desperta, ou seja, se se valorizar a sua fruição. E naturalmente que a literatura portuguesa para a infância de qualidade deve marcar presença em tais leituras.


    6. Recorra-se também a gravações e vídeos de qualidade existentes na Internet ou pertencentes à biblioteca, que nas aulas deem a ouvir e a ver textos ditos por grandes vozes: Villaret, Maria Barroso, Mário Viegas… Ou então recorra-se a canções cujas letras são por vezes poemas de grandes poetas, interpretadas por José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Manuel Freire, Samuel, Rádio Macau, Cristina Branco, Aldina Duarte, Bando dos Gambozinos…


    7. Organize-se, na biblioteca, uma pequena exposição sobre a história do livro em Portugal e no mundo. Aproveite-se o ensejo para, em visitas guiadas, explorar as partes do livro (capa, contracapa, lombada, guardas…), os seus aspetos paratextuais (título, índice, sumário, prefácio, títulos de capítulos, ilustração…). Proponha-se – por que não? – a escrita coletiva ou individual de uma narrativa cuja personagem principal seja um livro; ou a escrita de um poema. E que, se possível, os termos aprendidos sejam utilizados.


    8. Explore-se, na biblioteca escolar, a secção dedicada à literatura portuguesa, quer a destinada preferencialmente a adultos quer a infanto-juvenil. Dê-se conta dos autores presentes.


    9. Elabore-se em aula (Português, Expressão Plástica / Educação Visual) uma pequena coleção de marcadores de livros que contenham um retrato de um dos nossos autores clássicos e um fragmento de texto seu. Promova-se uma exposição de marcadores.


    10. Por ocasião desta data equacionem-se (ainda que a situação sanitária atualmente o não permita) visitas de estudo a casas-museu de escritores: Júlio Dinis em Ovar; Camilo em S. Miguel de Seide; Trindade Coelho em Mogadouro; Fundação Eça de Queirós em Baião/Resende; Casa-Museu Guerra Junqueiro no Porto; Casa Fernando Pessoa em Lisboa; Torga em S. Martinho de Anta e em Coimbra; Casas-Museu de José Régio em Vila do Conde e Portalegre; etc.


    11. Se se trata do Dia do Livro Português, como não considerar a importância fundamental de outros livros pertencentes a domínios extra-literários, por exemplo nas áreas da arquitetura e da pintura, da matemática, da geografia, da reportagem sociológica e dos estudos feministas, da historiografia literária, musicológica e das artes visuais, ou ainda nos campos da historiografia económica, da linguística, da ciência, da reflexão filosófica e do ensaísmo de diversas tendências, etc.?


    Assim sendo, afirmam-se, igualmente, como grandes livros portugueses obras não literárias como as que se seguem:

    ▪ “Da Pintura Antiga” (1548) e “Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa” (1571), de Francisco de Holanda; 

    ▪ “A Cultura Integral do Indivíduo – Problema central do nosso tempo” (1933) e “Conceitos Fundamentais da Matemática” (1941), de Bento de Jesus Caraça;

    ▪ “Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico” (1945), de Orlando Ribeiro;

    ▪ “As Mulheres do Meu País” (1948-1950), de Maria Lamas;

    ▪ “História da Literatura Portuguesa” (1.ª ed. de 1955, muitas outras se seguiram), de António José Saraiva e Óscar Lopes;

    ▪ “História da Música Portuguesa” (1959), de João de Freitas Branco;

    ▪ “A Paleta e o Mundo” (1956-62), de Mário Dionísio;

    ▪ “Teoria da Linguagem” (1967-73), de Herculano de Carvalho;

    ▪ “Gramática Simbólica do Português” (1971-1972), de Óscar Lopes;

    ▪ “A Canção Popular Portuguesa” (1974), de Fernando Lopes-Graça;

    ▪ “História Económica de Portugal” (1985), de Armando Castro;

    ▪ “O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português” (1978), de Eduardo Lourenço;

    ▪ “O Erro de Descartes, Emoção, Razão e Cérebro Humano” (1994), de António Damásio;

    e outros tantos títulos que poderíamos apontar.


    12. Considerando até a diversidade vocacional e de interesses dos jovens, este tipo de livros não literários deve ser também integrado nas mostras bibliográficas, designadamente no 3.º ciclo e no Secundário, e os seus autores devidamente destacados, em secção à parte (historiadores, cientistas, filósofos, musicólogos…). E é evidente que bons livros informativos e científicos de autores portugueses contemporâneos dirigidos à infância e à juventude figurarão necessariamente nas mostras. Três exemplos, pensando sobretudo nos 1.º e 2.º ciclos:

    ▪ “Lá fora – Guia para descobrir a natureza” (2014), de Inês Teixeira do Rosário, Maria Ana Peixe dias e Bernardo P. Carvalho;

    ▪ “Cá Dentro – Guia para Descobrir o Cérebro” (2017), de Isabel Minhós Martins, Maria Manuel Pedrosa e Madalena Matoso;

    ▪ “O Espantoso Recordatório de Factos Adoráveis Sobre Os Incríveis Animais de Lousada” (2017), de Milene Matos.


    13. Por último, escusado será dizer que várias destas propostas, destes livros e destes autores abrem caminhos possíveis para o desenho de pequenos projetos educativos multidisciplinares ou mesmo interdisciplinares, articulando o Português com as Ciências/Estudo do Meio, com a História e a Geografia/Estudo do Meio, com a Matemática, com as Expressões Artísticas, etc. Apenas um exemplo: o conhecimento mais aprofundado do professor e divulgador de Física Rómulo de Carvalho e dos seus livros juvenis de tipo informativo. Autor que foi simultaneamente grande poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão, tendo sabido integrar de forma muito original a linguagem científica no seu discurso poético. Finalmente, por que não desenvolver um projeto integrado com Educação/Expressão Musical? – já que vários dos poemas de Gedeão foram musicados por compositores como José Niza e interpretados por cantores como Adriano Correia de Oliveira, Samuel ou Carlos Mendes.


    14. Uma nota final para lembrar que cada livro português é obviamente resultado da colaboração de muita gente: escritor, por vezes ilustrador, designer, editor, trabalhador da gráfica, livreiro, etc. Talvez esta data possa ser ponto de partida para se esclarecer o público infantil e juvenil sobre o circuito de produção e comercialização do livro. E é natural que, num contexto como este, o papel do ilustrador de livros infantis seja enfatizado e que alguns dos protagonistas passados e presentes da ilustração portuguesa sejam destacados: Raquel Roque Gameiro, Resende, Maria Keil, Manuela Bacelar e tantos outros, incluindo as novas gerações de notáveis ilustradores em atividade.

    Que as Escolas Amigas da Criança assinalem, pois, condignamente e de forma pensada, este Dia do Livro Português, que pode tornar-se excelente pretexto para variadas atividades pedagógicas nos dias que precedem o 26 de Março ou que a ele sucedem.

     

    José António Gomes

    IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da Escola Superior de Educação do Porto

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