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    Os desafios do tio Francisco

    Os desafios do tio Francisco

    4/13/2022

    O tio Francisco é irmão da minha mãe e é uma pessoa especial. Já viveu muitos anos, mas não parece velho. Tem olhos claros, mas de cor indefinida porque se estiver de camisola azul, parecem azuis, se estiver de camisola verde, parecem verdes, e nos dias tristonhos ficam acinzentados. Além de ser uma figura original, tem ideias originais e adora surpreender as pessoas.

    Ontem, bateu à porta da nossa casa quando estávamos a acabar de jantar. Fez imensa festa a toda a gente, comeu que se fartou e depois, como sempre, conversou um bocado com os meus pais. A seguir concentrou-se em mim e na Matilde, minha irmã gémea. Adora lançar-nos desafios. Desta vez atirou uma pergunta inesperada.

    - Vocês são do tipo otimista ou pessimista?

    Como nós pestanejámos e hesitámos um instante, pensou que não sabíamos do que falava, então explicou.

    - Os otimistas veem sempre o lado positivo do que lhes acontece a eles e aos outros. Os pessimistas, pelo contrário, veem sobretudo o lado negativo de tudo. Para vocês perceberem de que tipo são, analisem o que vos vou contar.

    Respirou fundo, passou a mão pela testa e começou:

    - O meu amigo Miguel sonhava ir a Paris e conseguiu. Mas enquanto lá esteve, choveu imenso, as pessoas que o receberam eram um bocado maçadoras, só o levaram a restaurantes caríssimos e nunca pagaram a parte dele.

    Calou-se um instante e prosseguiu.

    - Na vossa opinião, a ida a Paris foi uma experiência positiva ou negativa?

    Não sendo fácil responder, não respondi. A Matilde também se mostrava perplexa e o tio à espera, com um brilho malandro no olhar.

    - Então? Que lhes parece?

    Remexi-me na cadeira e olhei para a minha irmã.

    - Se a pessoa tem um sonho e consegue realizá-lo, a experiência é sempre positiva, não achas?

    - Se um sonho vira desilusão, talvez seja melhor que não se realize.

    Ainda discutimos um bocado, mas não conseguimos chegar a conclusões definitivas. O tio recomendou que analisássemos casos e situações variadas para descobrirmos se somos otimistas ou pessimistas. Antes de ir embora deu-nos presentes. À Matilde bombons recheados de caramelo que ela tinha pedido para experimentar. Comeu demais, ficou cheia de borbulhas na cara. A mim, que ultimamente não tenho lido muito, deu-me um livro de contos, pequenos contos divertidíssimos. Gostei de todos e sabem que mais? Apeteceu-me escrever histórias daquele género sobre os episódios mais engraçados das minhas últimas férias. Mas foram tantos, que as histórias estão a ficar enormes, tenho medo de que assim não sejam divertidas e já pensei em desistir.

    Na opinião de quem me está a ler, os presentes que nos deu o tio Francisco desencadearam experiências sobretudo positivas ou sobretudo negativas?

    Cá por mim, continuo sem opinião firme e, portanto, sem saber se sou otimista, pessimista ou irremediavelmente indeciso.

    E vocês? Que dizem? Ajudem-me, que estou confuso.

                                                                                                                                                                                                                                                                                     

    Ana Maria Magalhães

    Isabel Alçada

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