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Galileu
2/3/2023
Nasceu em Pisa, Itália, em 1564. Aos 17 anos era estudante de medicina na sua cidade. Um dia, estava na missa Galileu Galilei (a figura de quem falamos), quando reparou nos candeeiros da catedral, que balouçavam com a corrente de ar. Fez uso então das pulsações para medir o movimento. Tais movimentos, embora cada vez menores, tinham sempre a mesma duração. Refletiu, por isso, em que os pêndulos poderiam ser usados para medir o tempo – base dos relógios mecânicos modernos.
Deixou entretanto a sua cidade para ir estudar matemática e mecânica e, quando regressou, converteu-se num prestigiado professor.
Tornara-se, entretanto, um físico e um astrónomo, além de matemático, e começara a impor-se pela valorização da abordagem experimental na ciência – que então (estamos no Renascimento) se ia desenvolvendo.
A notícia da invenção do telescópio, na Holanda, levou-o a conceber telescópios de maior potência, que o auxiliaram na observação dos astros (em 1610, publica um livro que se tornaria influente: Mensageiro dos Astros).
As suas descobertas, no campo da astronomia, iam confirmando cada vez mais as teorias do polaco Nicolau Copérnico (1473-1543), segundo as quais a Terra gira à volta do Sol, e colocando em xeque, nesta matéria, o pensamento de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Galileu dá forma às suas ideias em Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo, Ptolemaico e Coperniciano.
Visto como obra-prima, na Europa do tempo, este livro, no entanto, conflituava com a doutrina da Igreja de Roma, para quem a Terra era o centro do sistema solar.
Acusado por isso de heresia, o físico e astrónomo pisano é julgado em Roma pela Inquisição. Considerado culpado, e vendo-se ameaçado de tortura, é obrigado a renegar publicamente as suas ideias, segundo as quais era a Terra que girava em torno do Sol.
Galileu estava velho e a sua saúde já era frágil (morreria em 1642), pelo que fez o que o tribunal lhe exigia. Foi condenado a exilar-se no campo o resto da sua vida. Porém, como sabia ser válida a sua teoria, ao sair do tribunal, terá murmurado: e pur si muove, ou seja, e no entanto move-se. Referia-se, é claro à Terra, insistindo assim, quase silenciosamente, na verdade da sua teoria, o heliocentrismo, segundo a qual a Terra gira em redor do Sol com certa periodicidade e velocidade.
Galileu impôs-se, em suma, como símbolo da abordagem experimental da ciência, e como defensor da racionalidade e da lucidez (atributos que o tornariam, por assim dizer, «imortal»), contra a alienação e o obscurantismo patenteados pelos representantes da hierarquia da Igreja de Roma e pelo Santo Ofício, esses, no fim de contas, condenados ao esquecimento.
Talvez por isso a arte e a literatura se tenham interessado tanto pela figura de Galileu Galilei e a tenham representado na pintura e na literatura. Relembre-se, neste último caso, o famoso drama de Bertolt Brecht, A Vida de Galileu, escrito em 1938-39; o poema «Galileo Galilei», da escritora espanhola Carmen Gil (n. 1962), ou ainda os livros infanto-juvenis biográficos escritos por Guilherme de Almeida (n. 1950), Galileu Galilei (2009), por José Jorge Letria (n. 1951), Galileu à Luz de uma Estrela (2009), ou por Steve Parker (n. 1952), Galileu. E isto para não falar no belíssimo «Poema para Galileo», do grande poeta e professor de física que foi António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997), autor também de excelentes livros juvenis de divulgação científica. Um poema cuja declamação admirável Mário Viegas viria a gravar. Vale pois a pena terminar com os versos inesquecíveis de Gedeão: «Eu queria agradecer-te, Galileo, / A inteligência das coisas que me deste.»
José António Gomes
Professor na Escola Superior de Educação do Porto