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Implantação da República Portuguesa
10/4/2023
Um dia na Germânia o velho Gutenberg
tentando só por si do seu ignoto albergue
abrir a Renascença,
rompeu da noite eterna o denso véu antigo
e dando ao mundo velho um grande invento amigo
apresentou-lhe a IMPRENSA.
A invenção prosseguiu, cumpriu o seu desígnio,
e anos depois o génio enorme de extermínio
que se chamou Rosseau e se chamou Voltaire,
do primitivo génio utilizando a luz,
cava, mina, convence, arquitecta e produz,
e tanto grita e quer
que a França sacudindo a opressão dos reis,
bem alto interpretando as luminosas leis
do livre precursor,
dá-nos aquela acção que nas histórias brilha,
que vai desde o rugir das lutas da Bastilha
ao todo Termidor.
Farto tambêm de opróbio o heroico Portugal,
extraordinário se ergueu num esforço colossal
numa manhã doirada,
e atirando p'ra longe o trono, o evangelho,
mostrou ao mundo inteiro, cheio de orgulho velho,
a pátria libertada.
Quem não viu nessa noite de ataque aos Inválidos,
entre o louco roldão dos cidadãos já pálidos,
– as armas a fulgir –,
quem não viu em outubro dando o braço à armada,
na Rotunda, depois, por entre a barricada
o Gutenberg a rir?
Sublimes conclusões que a história nos aponta!
Que ruidosos triunfos veem de ti, sem conta,
ó letra, ó livro, ó luz !
Em caracteres de fogo assim rompendo a treva,
a que estranhas revoltas teu fulgor nos leva,
a que longínquos mundos teu génio conduz!
Poema de Norberto de Araújo em homenagem à implantação da República em 1910. Trabalho ornamentado, composto na oficina tipográfica da Imprensa Nacional, setembro de 1911.
https://imprensanacional.pt/history-heritage/poema-de-homenagem-a-republica-portuguesa-1911/
Fonte: Imprensa Nacional